Agora, observe atentamente os termos destacados nas frases seguintes:
Quando
ele mostrou as pesquisas,
eu caí do cavalo.
A não compreensão do público
me assustou.
A meta é atingir
aquele patamar.
O sucesso justifica
qualquer coisa.
Nos dois primeiros exemplos, a função desses termos é
substituir o nome (substantivo); já nos dois últimos, sua função é
acompanhar o substantivo, determinando a extensão de seu significado. Tais palavras são denominadas
pronomes.
Pronome é a palavra variável em gênero, número e pessoa que representa ou acompanha o substantivo, indicando sua posição em relação às pessoas do discurso ou situando-o no espaço e no tempo.
Quando o pronome
representa o substantivo, dizemos tratar-se de
pronome substantivo:
Ele não veio.
Convidei-
o para a festa.
Quando o pronome
acompanha o substantivo, dizemos tratar-se de
pronome adjetivo:
Esta casa é antiga.
Meu livro está rabiscado.
Muitos livros são interessantes.
Isoladamente, o pronome não tem significado, pois não temos condições de identificar o ser a que ele se refere. Portanto, o pronome expressa um ser apenas quando inserido num contexto.
Paulo é uma pessoa divertida. Convidei-
o para a festa, mas
ele não veio.
Há em português, seis espécies de pronomes:
pessoais; interrogativos; demonstrativos; relativos; indefinidos; interrogativos.
As pessoas do discurso
Como o pronome, via de regra, está relacionado às pessoas do discurso (ou seja, às pessoas que participam de uma fala, de uma conversação), é fundamental identificá-las.
São
três as pessoas do discurso:
primeira pessoa – aquela que fala.
segunda pessoa – aquela com quem se fala.
terceira pessoa – aquela de quem (ou de que) se fala.
Imaginemos um fragmento de conversa em que
José (primeira pessoa) fala com
Juliana (segunda pessoa) sobre
Tiago (terceira pessoa):
-
Eu já
te disse: não quero falar sobre
ele!
Eu é um pronome que indica a primeira pessoa, a pessoa que fala (José);
te é um pronome que indica a segunda pessoa, no caso, Juliana, com quem José fala;
ele é um pronome que indica a terceira pessoa, de quem se fala, ou seja, Tiago.
1) Pronomes pessoais
Pronomes pessoais são aqueles que representam as pessoas do discurso. Além das flexões de pessoa (primeira, segunda e terceira), gênero (masculino e feminino) e número (singular e plural), o pronome pessoal apresenta variação de forma (reto ou oblíquo), dependendo da função que desempenhar na oração.
O pronome pessoal será
reto quando desempenhar a função de
sujeito da oração e será
oblíquo quando desempenhar a função de
complemento verbal.
Os pronomes pessoais são os seguintes:
As formas sintéticas
comigo,
contigo,
conosco,
convosco, e
consigo resultam da combinação da preposição
com +
os pronomes oblíquos correspondentes.
Pronomes de tratamento
Na categoria dos pronomes pessoais, incluem-se os
pronomes de tratamento. Eles se referem à pessoa com quem se fala (portanto,
segunda pessoa), mas a concordância gramatical deve ser feita na
terceira pessoa. Convém notar que, com exceção de
você, esses pronomes são empregados no tratamento cerimonioso.
Veja alguns deles:
São também pronomes de tratamento: o
senhor, a
senhora,
você,
vocês.
Emprego dos pronomes pessoais:
1. Os pronomes oblíquos
conosco e
convosco são utilizados normalmente em sua forma sintética. Caso haja palavra de reforço, tais pronomes devem ser substituídos pela forma analítica:
Queriam falar
conosco.
Queriam falar
com nós dois.
2. Os pronomes oblíquos
o,
a,
os,
as, quando precedidos de verbos que terminam em
–r,
-s, -
z, assumem a forma
lo,
la,
los,
las, e os verbos perdem aquelas terminações.
Vou
amá-lo por toda a minha vida. (amar + o)
As nossas crianças,
amemo-las com intensidade. (amemos + as)
O jogo,
fi-lo sozinho. (fiz + o)
3. Os pronomes oblíquos
o,
a,
os,
as, quando precedidos de verbos que terminam em
–m,
- ão,
-õe, assumem a forma
no,
na,
nos,
nas.
Entregaram-no ao professor.
O assunto,
dão-no por encerrado.
Abençõem-nos para que partam tranqüilos.
4. Na primeira pessoa do plural (
nós), a forma verbal perde o
s final quando seguida do pronome oblíquo
nos.
queixamos + nos =
queixamo-nos
referimos + nos =
referimo-nos
5. As formas plurais
nós e
vós podem ser empregadas para representar uma
única pessoa (singular), adquirindo valor cerimonioso ou de modéstia.
Nós – disse o prefeito – procuramos resolver o problema das enchentes. (
plural de modéstia)
Vós sois minha salvação, meu Deus! (
plural de majestático)
6. Os pronomes de tratamento devem vir precedidos de
vossa, quando nos dirigimos à pessoa representada pelo pronome, e por
sua, quando nos referimos a essa pessoa.
Vossa Excelência já aprovou os projetos? – perguntou o assessor.
Sua Excelência, o governador, deverá estar presente à inauguração – relatou o repórter.
Na primeira frase, empregou-se Vossa Excelência porque o interlocutor falava com o governador. Na Segunda, o repórter utilizou a forma Sua Excelência porque falava do governador.
7. No português moderno falado no Brasil,
você deixou de ser pronome de tratamento e assumiu todas as características e funções de um pronome pessoal de
segunda pessoa substituindo o
tu e o
vós. No entanto, continua fazendo a concordância com o verbo na
terceira pessoa.
Você
irá ao cinema? (você: segunda pessoa; irá: terceira pessoa)
Vocês
irão ao cinema? (vocês: segunda pessoa; irão: terceira pessoa)
2) Pronomes possessivos
Pronomes possessivos são aqueles que se referem às pessoas do discurso, indicando idéia de posse.
Meu chapéu é vermelho
Posso ler
teu jornal?
Os pronomes possessivos são os seguintes:
Concordância dos pronomes possessivos:
Os pronomes possessivos concordam em gênero e número com a coisa possuída, e em pessoa com o possuidor.
(Eu) Vendi
meus discos.
(Eu) Vendi
minha coleção de discos.
(Tu) Releste
teus papéis?
(Tu) Releste
tua prova?
(Nós) Emprestamos
nossos discos.
(Nós) Emprestamos
nossa casa.
Quando o pronome possessivo determina mais de um substantivo, ele deverá concordar em gênero e número com o substantivo mais próximo.
Fiquei ouvindo
meus discos e fitas.
Emprego dos pronomes possessivos:
1. Em muitos casos, a utilização do possessivo de terceira pessoa (
seu e flexões) pode deixar a frase ambígua, ou seja, podemos ter dúvidas quanto o possuidor:
A professora disse ao diretor que concordava com
sua nomeação. (nomeação de quem? Da professora ou do diretor?)
Para evitar essa ambigüidade, deve-se, sempre que possível, substituir o pronome
seu (e flexões) pela forma
dele (e flexões).
A professora disse ao diretor que concordava com a nomeação
dela. (da professora)
A professora disse ao diretor que concordava com a nomeação
dele. (do diretor)
2. Há casos em que o pronome possessivo não exprime propriamente idéia de posse. Ele pode ser utilizado pra indicar
aproximação,
afeto ou
respeito.
Aquele senhor deve ter seus cinqüenta anos. (aproximação)
Meu caro aluno, procure esforçar-se mais. (afeto)
Minha Senhora, permita-me um aparte. (respeito)
3. A palavra
seu que antecede
nomes de pessoas não é pronome possessivo, mas corruptela de
senhor.
Seu Humberto, o senhor poderia emprestar-me a furadeira?
3) Pronomes demonstrativos
Pronomes demonstrativos são aqueles que indicam a posição de um ser em relação às pessoas do discurso, situando-o no espaço ou no tempo.
Dependendo do contexto, também podem funcionar como pronomes demonstrativos as seguintes palavras:
o,
a,
os,
as,
mesmo,
próprio,
semelhante,
tal.
Falaram tudo
o que queriam.
As atletas convocadas não eram
as que estavam em melhor forma.
Tal é pronome demonstrativo quando equivale a
este,
esse,
isso (e respectivas flexões):
Não havia motivos reais para
tal comportamento.
Jamais consegui compreender
tais decisões.
Semelhante é pronome demonstrativo quando equivale a
este,
esse,
tal (e respectivas
reflexões).
Não diga
semelhante asneira!
Mesmo e
Próprio são demonstrativos de reforço. Estarão sempre se referindo a um substantivo ou pronome com o qual deverão concordar:
Ele
mesmo preparou o jantar.
Ela
própria autorizou a viagem do filho.
Fizeram as
mesmas reclamações ao síndico.
Não se deve fazer justiça pelas
próprias mãos.
Os pronomes demonstrativos, com exceção de
mesmo, próprio,
semelhante e
tal, podem aparecer unidos a preposições.
deste, desta, disto (= de + este, esta, isto)
nesse, nessa, nisso (= em + esse, essa, isso)
daquele, daquela, daquilo (= de + aquele, aquela, aquilo)
àquele, àquela, àquilo (= a + aquele, aquela, aquilo)
Emprego dos pronomes demonstrativos:
1. Os pronomes demonstrativos podem ser utilizados para indicar a posição espacial de um ser em relação às pessoas do discurso.
Os demonstrativos de primeira pessoa (
este e flexões,
isto) indicam que o ser está
próximo à pessoa que fala:
Esta menina que está aqui ao meu lado se chama Lúcia.
Este livro que trago comigo é um romance.
Isto que eu tenho nas mãos é uma chave.
Os demonstrativos de segunda pessoa (
esse e flexões,
isso) indicam que o ser está
próximo à
pessoa com quem se fala.
Essa menina que está aí ao teu lado se chama Lúcia.
Esse livro que tu trazes contigo é um romance.
Isso que você tem nas mãos é uma chave.
Os demonstrativos de terceira pessoa (
aquele e flexões,
aquilo) indicam que o ser está
próximo à pessoa de quem se fala, ou distante dos interlocutores.
Aquela menina que estuda na outra sala se chama Lúcia.
Aquele livro que está lá na biblioteca é um romance.
Aquilo que está ali nas mãos de Pedro é uma chave.
2. os demonstrativos servem para indicar a posição temporal, revelando proximidade ou distanciamento no tempo, em relação à pessoa que fala.
O demonstrativo de primeira pessoa
este (e flexões) revela
tempo presente, ou bastante
próximo do momento em que se fala:
Hoje é feriado, por isso desejo aproveitar
este dia.
Desejo viajar ainda
nesta semana.
O demonstrativo de segunda pessoa
esse (e flexões) revela
tempo passado relativamente
próximo ao momento em que se fala:
Na quarta-feira passada fiz aniversário;
nesse dia reuni-me com os amigos.
No mês passado completei dezoito anos;
nesse mesmo mês tirei a carteira de habilitação.
O demonstrativo de terceira pessoa
aquele (e flexões) revela
tempo remoto ou
bastante vago:
Em 1970, a seleção brasileira de futebol era imbatível. Resultado: naquele ano o Brasil se
sagrou tricampeão mundial.
Em 1922 realizou-se a semana da Arte Moderna em São Paulo; naquela época, muitas
pessoas criticaram as propostas modernistas.
3. Os pronomes demonstrativos podem indicar
o que ainda vai ser dito e aquilo que
já foi dito.
Devemos empregar
este (e flexões) e
isto quando queremos fazer referência a alguma coisa que
ainda vai ser dita:
Espero sinceramente
isto:
que sejam chamados os melhores.
Estas são as qualidades de um bom texto:
clareza, correção, elegância e concisão.
Devemos empregar
esse (e flexões) e
isso quando queremos fazer referência
alguma coisa que
já foi dita:
Que sejam chamados os melhores; é
isso que espero.
Clareza, correção, elegância e concisão;
essas são as qualidades de um bom texto.
Emprega-se
este em oposição a
aquele quando se quer fazer referência a elementos já
mencionados.
Este se refere ao mais próximo;
aquele, ao mais distante.
Matemática e
Literatura são matérias que me agradam:
esta me desenvolve a sensibilidade;
aquela, o raciocínio.
4) Pronomes relativos
Pronomes relativos são aqueles que retomam um termo anterior (antecedente) da oração, projetando-o numa outra oração.
Não conhecemos os alunos. Os alunos saíram.
Não conhecemos os alunos
que saíram.
Observe: o pronome relativo que retoma o termo antecedente (
os alunos), projetando-o na
oração seguinte.
Os pronomes relativos são os seguintes:
Emprego dos pronomes relativos:
1. Os pronomes relativos virão precedidos de preposição se a regência assim determinar.
Este é o autor
a cuja obra me refiro. (me refiro
a)
Este é o autor
de cuja obra gosto. (gosto
de)
São opiniões
em que penso. (penso
em)
2. O pronome relativo
quem é empregado com referência a
pessoas e é precedido de preposição:
Não conheço a menina
de quem você falou.
Este é o rapaz
a quem você se referiu.
3. É comum empregar o relativo
quem sem antecedente claro. Nesse caso, ele é classificado como
relativo indefinido e
não é antecedido de preposição:
Quem cala consente. (= Aquele que cala, consente)
4. O pronome relativo
que pode ser empregado com referência a
pessoas ou
coisas:
Não conheço o rapaz
que saiu. (pessoa)
Não li o livro
que você me indicou. (coisa)
5. Quando precedido de
preposição monossilábica, emprega-se o pronome relativo
que. Com
preposições de mais de uma sílaba, usa-se o relativo
o qual (e flexões).
Esta é a pessoa
de que lhe falei.
Esta é a pessoa
sobre a qual lhe falei.
Aquela é a ferramenta
com que trabalho.
Aquele é o empreiteiro
para o qual trabalho.
6. O pronome relativo
que pode ter por antecedente o pronome demonstrativo
o (e flexões).
“
Cesse tudo o que a Musa antiga canta...” (Camões)
Sei
o que estou dizendo.
Calou
o que sentia.
Nesses casos o pronome
o equivale a
aquilo.
7. O pronome relativo
cujo (e flexões) é
relativo possessivo, equivalendo a
do qual (e flexões). Deve concordar com a coisa possuída:
Esta é a pessoa em
cuja casa me hospedei. (casa da pessoa)
Esta é a cidade
cujas praias são lindas. (praias da cidade)
Feliz o pai
cujos filhos são ajuizados. (filhos do pai)
8. O pronome relativo
quanto (e flexões) normalmente tem por antecedentes os pronomes indefinidos
tudo,
tanto etc.; daí seu valor
indefinido.
Falou tudo
quanto queria.
Coloque tantas
quantas forem necessárias.
Também pode ser empregado sem antecedente. Esse emprego é comum em certos documentos jurídicos:
Saiba
quantos lerem esta escritura...
9. O relativo
onde é usado para indicar
lugar e equivale a em que,
no qual.
Esta é a casa
onde moro.
Não conheço o lugar
onde você está
Onde é empregado com verbos que não dão idéia de movimento. Pode ser usado sem
antecedente.
Sempre morei na cidade
onde nasci.
Fique
onde está.
Aonde é empregado com verbos que dão idéia de
movimento e equivale a
para onde, sendo resultado da combinação da preposição
a + onde.
Não conheço o lugar
aonde você irá.
Voltei àquele lugar
aonde meu pai costumava me levar quando criança.
5) Pronomes indefinidos
Pronomes indefinidos são aqueles que se referem à terceira pessoa do discurso de modo
vago e impreciso.
Alguém me contou a verdade.
Algo me diz que não é este o caminho.
Os principais pronomes indefinidos são os seguintes:
Os pronomes indefinidos também podem aparecer sob forma de locução pronominal:
cada qual,
quem quer que,
qualquer um.
Emprego dos pronomes indefinidos:
1. O indefinido
algum, quando posposto ao nome, assume valor negativo, equivalendo a
nenhum.
Motivo
algum me fará desistir do cargo.
Livro
algum faz referência a este episódio.
2. O pronome indefinido
cada não deve ser utilizado
desacompanhado de substantivo ou
numeral:
Recebemos cem reais
cada um.
3.
Certo é pronome indefinido quando anteposto ao nome a que se refere. Quando posposto, será adjetivo:
Não entendi
certos exercícios. (pronome indefinido)
Os exercícios
certos valerão nota. (adjetivo, com sentido de “corretos”)
4.
Todo,
toda (singular), quando desacompanhados de artigo, significam
qualquer.
Todo homem é mortal. (qualquer homem)
Quando acompanhados de artigo, passam a dar a idéia de
totalidade.
Ele comeu
todo o bolo. (o bolo inteiro)
No plural,
todos,
todas sempre virão seguidos de
artigo, exceto se houver palavra que os exclua, ou numeral não seguido de substantivo:
Todos os alunos compareceram.
Todos estes alunos compareceram. (estes: palavra que exclui o artigo).
Todos os cinco alunos compareceram.
5.
Qualquer tem por plural
quaisquer.
Acabaram acolhendo
quaisquer soluções.
A palavra
qualquer, quando posposta ao substantivo, assume
valor pejorativo:
Era um malandrinho
qualquer.
6) Pronomes interrogativos
São aqueles usados para formular alguma pergunta, de forma direta ou indireta.
Que impacto a rejeição do público causou em você? (interrogativa direta)
Gostaria muito de saber
quem fez isso. (interrogativa indireta)
Por suas características, os pronomes interrogativos assemelham-se aos pronomes indefinidos.