terça-feira, 5 de abril de 2011
sábado, 2 de abril de 2011
ENTENDENDO O OBJETO DIRETO PREPOSICIONADO
Muito bem. Estamos na aula sobre sintaxe do período simples, você imagina já ter entendido tudo sobre complementos verbais (objeto direto e objeto indireto) quando o professor vem com essa: "Vamos falar, agora, sobre o OBJETO DIRETO PREPOSICIONADO, turma!"
Como assim? Será que a gramática enlouqueceu? Será que ela está contrariando suas próprias normas e querendo nos deixar confusos?
Muita calma nessa hora, minha gente! Por mais "absurda" que, à primeira vista, isso possa parecer, eu garanto pra vocês: esse fenômeno e sua nomenclatura FAZEM, sim, MUITO SENTIDO!
É só você prestar bastante atenção e entender por que é possível preposicionar um objeto direto sem, contudo, transformá-lo num objeto indireto.
Preparados para desmistificar mais um ponto relacionado à sintaxe do nosso idioma?
Pois bem, aqui vamos nós!
ENTENDENDO O OBJETO DIRETO PREPOSICIONADO
Sabemos que objeto direto é o complemento que se liga ao verbo diretamente, isto é, sem o auxílio de preposição. Assim, em “Devemos respeitar nossos pais”, nossos pais é objeto direto do verbo respeitar porque se liga a ele sem a presença de preposição.(X respeita Y)
Entretanto, às vezes, o objeto direto pode aparecer precedido de preposição – e essa preposição, geralmente, é “a” – sem que isso o transforme em objeto indireto (que, como você já sabe, é complemento ligado ao verbo através de uma preposição). Neste caso, temos o objeto direto preposicionado, como em “Amar a Deus sobre todas as coisas”. “Amar”, no contexto, é transitivo direto (X ama Y), mas mesmo assim apareceu a preposição “a” (amar a Deus).
Como você vê, existem contextos em que podemos empregar a preposição em relação a complementos que se ligam a verbos transitivos diretos. Normalmente, quando isso acontece, há razões semânticas por trás do preposicionamento desse objeto direto. Há casos em que o uso do objeto direto preposicionado é facultativo e, e outros em que tal uso pode ser considerado até mesmo "obrigatório", uma vez que sua função é promover a desambiguação da frase. Vejamos mais detidamente como isso se processa:
Uso facultativo:
• Com certos pronomes: “Márcia beneficiava a todos a sua volta” e "Gato a quem mordeu a cobra tem medo à corda".
• Com verbos que exprimem sentimentos: “A garota amava aos que a rodeavam” e “Detesto a Paulo e à sua corja.”.
• Nas antecipações do objeto, comuns em provérbios: "A quinta roda ao carro não faz senão embaraçar" e “Ao boi, pega-se pelo corno e ao homem, pela palavra".
• Como reforço à clareza: “Cumprimentei-o e aos que com ele estavam” e “Expulsou-o e aos comparsas”. Sem a preposição, podemos imaginar ser o segundo elemento do objeto direto sujeito de algum verbo, que na realidade não existe.
Uso obrigatório:
• Para evitar ambiguidade, mais precisamente, para não haver confusão entre o sujeito e o objeto: “A Daniel Mariana contratou” e “O urso ao caçador surpreendeu”. Sem a preposição, teríamos as construções ambíguas “Daniel Mariana contratou” e “O urso o caçador surpreendeu”. Nelas, não se sabe quem contratou quem nem quem surpreendeu quem. É claro que, como você já deve ter se questionado a essa altura, a ordem direta das frases resolveria muito bem a dificuldade: “Mariana contratou Daniel” e “O urso surpreendeu o caçador” –, mas se o escritor quiser manter a ordem inversa, a preposição é indispensável para a clareza da frase.
• Quando o objeto direto é constituído de formas pronominais: “Viu-me e a si própria refletidos nas águas da lagoa” e “Escolheu a eles seus conselheiros”. Sem a preposição, impõe-se o pronome oblíquo: “Escolheu-os seus conselheiros”. Veja ainda que as formas a mim, a si, a nós, etc. podem, pleonasticamente, reforçar os objetos representados pelos pronomes me, te, se, nos e vos, como em “Concluí que me feri a mim mesmo” e “Prejudicou-se a si próprio com o ato”. Como se vê, é também possível reforço adicional mediante o auxílio dos demonstrativos mesmo e próprio com propósito enfático.
Outra particularidade é a que se refere a verbos como comer e beber. Em “Gertrudes comeu a torta” e “Miguel bebeu o chá”, esses verbos são claramente transitivos diretos e consideramos que os sujeitos consumaram a ação, ou seja, comeram e beberam tudo. O que dizer, porém, de “Gertrudes comeu da torta” e “Miguel bebeu do chá”? Entendemos, nessas novas versões, que ambos os sujeitos comeram e beberam parte da torta e um pouco do chá, funcionando o objeto direto preposicionado, nesse caso, como um indicador de partitivo.
Espero que, a partir de agora, o conceito de objeto direto preposicionado fique mais claro para você!
Um grande abraço a todos e até a próxima!
Prof. Daniel Vícola
CORRIGINDO!
Queridões e queridonas que acessam o blogue: em nosso último encontro no Instituto Getusp, resolvendo uma das baterias de exercícios sobre VERBOS, uma das questões apresentou erro na marcação da resposta e, no embalo da resolução, sequer parei pra conferir o contexto da frase, que exigia a forma do verbo TER no singular, não no plural, como estava marcado, então, no slide, como resposta (alternativa E).
Recebendo e-mail da aluna Cecília, que faz o curso online, é que pude verificar o engano e, agora, felizmente, para o bem geral da nação, corrigi-lo em nome do perfeito aprendizado. (Obrigado, Cecília, por sua atenção e delicadeza!)
Abaixo reproduzo o teste em questão com a RESPOSTA CORRETA:
Fica claro, como vocês podem ver, que a concordância de TER, nesse caso, deve ser feita no SINGULAR - ele funciona como auxiliar do verbo HAVER que, neste caso, sendo sinônimo de "existir", não tem sujeito, senão objeto direto, exigindo que a locução permaneca na 3a pessoa do singular. Quando o verbo haver funciona como VERBO PRINCIPAL numa locução ele transmite a sua impessoalidade também para o verbo auxiliar, que concorda com ele, ficando na 3a pessoa do singular também.
É isso, minha gente.
Corrigida a falta, espero que todos tenham aprendido um pouco mais sobre os verbos.
Um grande abraço para a Cecília!
Até a próxima!
Prof. Daniel Vícola
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