terça-feira, 29 de janeiro de 2013

CONCORDÂNCIA DE FORMAS VERBAIS NO INFINITIVO

Estamos aqui para estudar ou estamos aqui para estudarmos?

O post de hoje responde à dúvida do leitor (ou leitora!) que se identifica como "aprendiz", aqui nos comentários do blog. Pergunta ele(a): "Qual é a forma correta: 'Estamos aqui para estudar ou estamos aqui para estudarmos.' ?" Em primeiríssimo lugar, agradeço a visita e a contribuição, caro(a) leitor(a): a partir das dúvidas que me chegam posso construir um espaço cada vez mais útil e interessante aos meus leitores e alunos. Em segundo lugar, você me pergunta o "assunto" dessa dúvida: trata-se de um problema de CONCORDÂNCIA VERBAL. Você quer saber sobre como proceder a concordância da forma verbal no infinitivo depois de uma preposição, no caso, a preposição "para". Esse, como você verá, é um "enrosco" bastante comum no cotidiano (principalmente escrito) da língua! Uma dúvida que, com certeza, é compartilhada por muitos falantes e estudantes da língua portuguesa. 
Para solucioná-la, contei com a ajuda valiosa dos conhecimentos colhidos ao professor Sérgio Nogueira, que leciona, a esse respeito, o seguinte:
 
USO DO INFINITIVO
 
1) Em locuções verbais, devemos usar o infinitivo impessoal (= aquele que não se flexiona):

“Os deputados DEVEM ANALISAR o caso na próxima semana.”
“Os contribuintes PODERÃO, a partir da próxima semana, PAGAR antecipadamente o IPTU.”

Observe que, nas locuções verbais, temos uma oração. O verbo auxiliar é o que concorda com o sujeito.
 
2) Em orações reduzidas, usamos o infinitivo pessoal (= aquele que se flexiona, concordando com o sujeito):
 
O professor trouxe o livro PARA EU LER (= para que eu lesse)
PARA TU LERES
PARA ELE LER
PARA NÓS LERMOS
PARA VÓS LERDES
PARA ELES LEREM
 
Nesse caso, são duas orações. “O professor trouxe o livro” é a oração principal. A segunda oração é uma subordinada adverbial reduzida de infinitivo.
 
Observe o exemplo a seguir:
“Houve uma ordem / PARA OS PRÓPRIOS FUNCIONÁRIOS CADASTRAREM OS CONTRIBUINTES.”

Esquema de fixação:
Locução verbal = verbo auxiliar + infinitivo impessoal (= não se flexiona);
Oração principal + oração reduzida de infinitivo (pessoal = concorda com o sujeito)

Dúvida do(a) leitor(a):

“Estamos aqui para estudar ou estamos aqui para estudarmos.”

São duas orações. “Estamos aqui” é a oração principal e “para estudar(mos)” é uma oração subordinada adverbial final reduzida de infinitivo. Aqui, portanto, temos duas orações, mas o sujeito é o mesmo (nós). Como o sujeito do infinitivo está oculto (nós), alguns autores consideram um caso facultativo, outros afirmam que é um caso de infinitivo não flexionado. Em geral, a preferência é pelo SINGULAR:

“Estamos aqui PARA ESTUDAR.” (forma preferencial) ou "Estamos aqui PARA ESTUDARMOS." (uso facultativo)

Observe mais exemplos:
“Duas novas ruas foram abertas / para FACILITAR o acesso.”
“Usineiros e representantes estarão em Brasília / para PRESSIONAR o governo federal.”

É interessante observar que, na 1ª pessoa do plural, todos preferem o infinitivo não flexionado: “Nós saímos / para ALMOÇAR”. Ninguém diria: “Nós saímos para almoçarmos.”

Observe, agora, os casos abaixo:

1) Se o sujeito estiver claramente expresso, a concordância é obrigatória:
“Trouxeram os sanduíches / para NÓS ALMOÇARMOS no escritório.”

2) Quando o infinitivo desempenha a função de complemento, usamos a forma não flexionada:
“Os paulistanos foram obrigados A PASSAR quatro horas no saguão do aeroporto.”
“A falta de informação leva outros meninos A FAZER a mesma coisa todos os dias.”
“A lei proíbe os brasileiros DE FUMAR na ponte aérea.”
“Os músicos foram impedidos DE PARTICIPAR de qualquer tipo de trabalho em discos.”

3) Quando o verbo for de ligação (= SER, ESTAR, FICAR, TORNAR-SE…) ou estiver na voz passiva, a concordância é facultativa, mas a preferência é o PLURAL:
“Elas tiveram que suar muito PARA SE TORNAREM as campeãs.”
“Elas têm que malhar muito PARA FICAREM magrinhas.”
“O TSE liberou duas das quatro parcelas PARA SEREM DIVIDIDAS por 26 partidos.”
“O porta-voz francês informou que as medidas A SEREM TOMADAS contra o terror são iguais às da Inglaterra.”
 
4) O verbo no plural enfatiza o agente em vez do fato. Em caso de ambiguidade, preferimos o plural para evitar a dúvida:
“Presidente liberou seus ministros PARA SUBIREM em palanque.” (= quem vai subir em palanque são os ministros, não o presidente).

Dessa forma, como podemos ver, a concordância das formas de infinitivo passa por uma série de fatores e, assim sendo, devemos perceber todos os dados contextuais antes de decidirmos, de fato, como proceder.
Espero que todas as informações tenham sido claras e úteis não só ao "aprendiz" mas a todos os aprendizes da nossa amada língua!
Um grande abraço a todos e até a próxima!

Professor Daniel Vícola

domingo, 27 de janeiro de 2013

CORRELAÇÃO DOS TEMPOS E MODOS VERBAIS


Olívia bebeu o suco que pôs na taça.

Eu pergunto a vocês, leitores: essa frase está correta?
Trata-se, sem dúvidas, de uma frase clara, pois todo mundo que a lê entende perfeitamente o que aconteceu: em primeiro lugar, Olívia colocou suco na taça. Em segundo lugar, ela o bebeu.
Atenção para o tempo verbal que foi usado para expressar ambas as ações: o pretérito perfeito do indicativo que, como sabemos, indica uma ação passada já concluída.
No nosso exemplo, temos duas ações passadas concluídas (beber e pôr). Acontece, todavia, que não é possível que Olívia tenha bebido e posto o suco na taça simultaneamente. Uma das ações, logicamente,  aconteceu antes da outra. E qual é o tempo verbal que devemos usar para indicar uma ação passada concluída antes de outra ação também passada? Como sabemos, é pretérito mais-que-perfeito!
Como Olívia teve que pôr o suco na taça antes de bebê-lo, o ideal seria que escrevêssemos a frase assim:

Olívia bebeu o suco que pusera na taça.

Nessa nova construção, temos a correlação adequada de tempos e modos verbais. Sabemos, então, que o pretérito mais-que-perfeito do indicativo combina com o pretérito perfeito do indicativo quando queremos indicar duas ações passadas concluídas, uma anterior à outra.
Vejamos mais um exemplo:

Se eu tivesse mais tempo, viajaria sempre.

Aqui há o verbo tivesse, flexionado no imperfeito do subjuntivo, modo que expressa dúvida, hipótese. Temos que pensar na carga semântica do verbo quando escolhemos algum outro para com ele combinar. No caso em questão, podemos escolher o futuro do pretérito do indicativo (viajaria), pois ele expressa uma ação futura cuja realização depende de algo, uma ação condicionada.
A ideia transmitida pelo imperfeito do subjuntivo é de uma possibilidade bem remota. Por isso devemos usar o futuro do pretérito na combinação.
As correlações entre o pretérito mais-que-perfeito e o pretérito perfeito, ambos do indicativo, e entre o imperfeito do subjuntivo (-SSE) e o futuro do pretérito do indicativo (-RIA), são as mais comuns nas provas.
Em relação às demais, cabe ao leitor analisá-las cuidadosamente e ver se a lógica entre as informações é mantida.

Vejamos mais alguns exemplos de combinações bem feitas:

Se eu passar no vestibular, cursarei Psicologia. 
(Fut. do subjuntivo + fut. do pres. do indicativo).

Ela pediu que eu comprasse mais pães na padaria. 
(Pret. Perfeito do indicativo + imperfeito do subjuntivo).

Se Lúcia tivesse pedido, eu teria trazido os pães. 
(Pret. Mais-que-perfeito composto do subjuntivo + futuro do pretérito composto do indicativo).

Apesar de ser seguro considerar que o imperfeito do subjuntivo e o futuro do pretérito do indicativo combinam (-SSE, -RIA), o importante mesmo é treinar para conseguir compreender o sentido dos períodos formado com correlações de tempos verbais. Para isso, é preciso saber o que cada tempo e modo verbal quer dizer.

Em relação à atitude do falante, pode-se dizer que ela muda conforme o modo verbal escolhido, como no esquema abaixo:
  • MODO INDICATIVO à atitude de declaração, de certeza;
  • MODO SUBJUNTIVO à atitude de dúvida, fala hipotética;
  • MODO IMPERATIVO à atitude de ordem, pedido, sugestão.
Quanto ao sentido dos tempos verbais do modo indicativo, podemos afirmar o seguinte (abordaremos os sentidos básicos!):

TEMPOS DO MODO INDICATIVO:


Presente do indicativo
  • Enuncia um fato que ocorre no momento em que se fala: Bebo água.
  • Dá atualidade ou dinamismos a fatos passados que são contados no presente: Em 1500, Cabral descobre o Brasil.
  • Indica ação futura e certa: Amanhã faço os exercícios de gramática.
  • Exprime dogmas, fatos cientificamente comprovados: A Terra gira em torno do sol. Um ângulo reto tem 90 graus.
  • Enuncia ação habitual: Aos sábados, almoçamos aqui.

Pretérito perfeito do indicativo
  • Enuncia fato passado já concluído: Compramos um apartamento espaçoso.

Pretérito mais-que-perfeito do indicativo
  • Exprime fato passado concluído antes de outro fato também passado: Comeu todos os doces que fizera. (primeiro fez, depois comeu).

Pretérito imperfeito do indicativo
  • Exprime um fato passado referindo-se ao momento em que ele ainda acontecia (ou seja, ainda não concluído): Eu cozinhava quando minha mãe chegou.
  • Indica ação frequentativa passada: Quando criança, lia Monteiro Lobato.

Futuro do presente do indicativo
  • Indica fato futuro tido como certo: Amanhã farei os trabalhos da faculdade.

Futuro do pretérito do indicativo
  • Enuncia um fato futuro relativo a um fato passado: Ontem Marta falou que compraria um par de sapatos.
 Por fim, lembremo-nos, também, dos tempos compostos:

Do indicativo Do subjuntivo
Pretérito perfeito Pres. do ind. + particípio Tenho escolhido Pres. do subj. + partícipio Tenha escolhido
Pretérito MQP Pret. Imperf. do ind. + Particípio Tinha escolhido Imperfeito do subj. + particípio Tivesse escolhido
Futuro do presente Fut. do pres. do ind. + particípio Terei escolhido Fut. do subjuntivo + particípio Tiver escolhido
Futuro do pretérito Fut. do pretérito do ind. + particípio Teria escolhido

Com base nessa tabela, por exemplo, sabemos que "Olívia tinha feito os doces quando Gabriela chegou" equivale a "Olívia fizera os doces quando Gabriela chegou."

Esse post não teve, de jeito nenhum, a intenção de esgotar o tema da correlação entre tempos e modos verbais. A intenção foi apenas a de dar uma "clareada" no assunto e incentivá-los, leitores, a estudar e a treinar bastante, pois só assim vocês ficarão seguros para enfrentarem as questões que cobrem esse conteúdo!
Um grande abraço!

Professor Daniel Vícola

sábado, 19 de janeiro de 2013

VALOR SEMÁNTICO DAS PREPOSIÇÕES


Como sempre leciono em nossas aulas, pensar no "valor semântico" de uma determinada classe de palavra é pensar no seu conteúdo, no significado que ela traz consigo e que acrescenta ao contexto em que é empregada. Com as preposições não é diferente. Assim como as demais palavras da língua, elas operam mudanças de significado quando empregadas para relacionar dois termos na oração.
Lembrando que a PREPOSIÇÃO é a palavra invariável que serve para CONECTAR as palavas na oração. As preposições estabelecem também relações semânticas entre o termo regente (aquele que pede a preposição) e o termo regido (aquele que completa seu sentido). Por isso, vejamos uma relação de exemplos para entender o valor semântico das preposições em diferentes contextos:

Peguei o caderno da Letícia e vou devolvê-lo amanhã - Valor semântico de posse.

As esculturas de cerâmica fizeram o maior sucesso na exposição - Matéria

Estudar com os amigos é muito mais proveitoso - Companhia

O conhecimento é a chave para o sucesso - Finalidade

Fiz o trabalho conforme você sugeriu - Conformidade

Falamos sobre Machado de Assis durante o seminário - Assunto

O garoto se feriu com a faca - Instrumento

Aguardávamos com ansiedade o resultado do concurso - Modo

O cachorro morreu de uma epidemia desconhecida - Causa

A plateia protestou contra o alto preço da mensalidade - Oposição

O orientador estipulou um prazo de vinte dias. - Tempo

Conheci uns amigos de Maceió. - Origem 

Perceberam? Mais do que simplesmente "ligar" os termos, as preposições estabelecem novas relações de sentido entre eles. É fundamental que você saiba reconhecê-las e identificá-las!
Grande abraço a todos e até a próxima!

Professor Daniel Vícola