Olívia bebeu o suco que pôs na taça.
Eu pergunto a vocês, leitores: essa frase está correta?
Trata-se, sem dúvidas, de uma frase clara, pois todo mundo que a lê
entende perfeitamente o que aconteceu: em primeiro lugar, Olívia colocou suco na taça. Em segundo lugar, ela o bebeu.
Atenção para o tempo verbal que foi usado para expressar ambas as ações:
o pretérito perfeito do indicativo que, como sabemos, indica uma ação passada já
concluída.
No nosso exemplo, temos duas ações passadas concluídas (beber e
pôr). Acontece, todavia, que não é possível que Olívia tenha bebido e posto o suco na taça simultaneamente. Uma das ações, logicamente, aconteceu antes
da outra. E qual é o tempo verbal que devemos usar para indicar uma ação
passada concluída antes de outra ação também passada? Como sabemos, é pretérito
mais-que-perfeito!
Como Olívia teve que pôr o suco na taça antes de bebê-lo, o ideal seria que escrevêssemos a frase assim:
Olívia bebeu o suco que pusera na taça.
Nessa nova construção, temos a correlação adequada de
tempos e modos verbais. Sabemos, então, que o pretérito
mais-que-perfeito do indicativo combina com o pretérito perfeito do
indicativo quando queremos indicar duas ações passadas concluídas, uma
anterior à outra.
Vejamos mais um exemplo:
Se eu tivesse mais tempo, viajaria sempre.
Aqui há o verbo tivesse, flexionado no
imperfeito do subjuntivo, modo que expressa dúvida, hipótese. Temos
que pensar na carga semântica do verbo quando escolhemos algum outro
para com ele combinar. No caso em questão, podemos escolher o futuro do
pretérito do indicativo (viajaria), pois ele expressa uma ação futura cuja realização depende de algo, uma ação condicionada.
A ideia transmitida pelo imperfeito do subjuntivo é de uma
possibilidade bem remota. Por isso devemos usar o futuro do pretérito na
combinação.
As correlações entre o pretérito mais-que-perfeito e o pretérito perfeito, ambos do
indicativo, e entre o imperfeito do subjuntivo (-SSE) e o futuro do
pretérito do indicativo (-RIA), são as mais comuns nas provas.
Em relação às demais, cabe ao leitor analisá-las cuidadosamente e ver se a lógica entre as informações é mantida.
Vejamos mais alguns exemplos de combinações bem feitas:
Se eu passar no vestibular, cursarei Psicologia.
(Fut. do subjuntivo + fut. do pres. do indicativo).
Ela pediu que eu comprasse mais pães na padaria.
(Pret. Perfeito do indicativo + imperfeito do subjuntivo).
Se Lúcia tivesse pedido, eu teria trazido os pães.
(Pret. Mais-que-perfeito composto do subjuntivo + futuro do pretérito composto do indicativo).
Apesar de ser seguro considerar que o imperfeito do subjuntivo e o
futuro do pretérito do indicativo combinam (-SSE, -RIA), o importante
mesmo é treinar para conseguir compreender o sentido dos períodos
formado com correlações de tempos verbais. Para isso, é preciso saber o
que cada tempo e modo verbal quer dizer.
Em relação à atitude do falante, pode-se dizer que ela muda conforme o modo verbal escolhido, como no esquema abaixo:
- MODO INDICATIVO à atitude de declaração, de certeza;
- MODO SUBJUNTIVO à atitude de dúvida, fala hipotética;
- MODO IMPERATIVO à atitude de ordem, pedido, sugestão.
Quanto ao sentido dos tempos verbais do modo indicativo, podemos afirmar o seguinte (abordaremos os sentidos básicos!):
TEMPOS DO MODO INDICATIVO:
Presente do indicativo
- Enuncia um fato que ocorre no momento em que se fala: Bebo água.
- Dá atualidade ou dinamismos a fatos passados que são contados no presente: Em 1500, Cabral descobre o Brasil.
- Indica ação futura e certa: Amanhã faço os exercícios de gramática.
- Exprime dogmas, fatos cientificamente comprovados: A Terra gira em torno do sol. Um ângulo reto tem 90 graus.
- Enuncia ação habitual: Aos sábados, almoçamos aqui.
Pretérito perfeito do indicativo
- Enuncia fato passado já concluído: Compramos um apartamento espaçoso.
Pretérito mais-que-perfeito do indicativo
- Exprime fato passado concluído antes de outro fato também passado: Comeu todos os doces que fizera. (primeiro fez, depois comeu).
Pretérito imperfeito do indicativo
- Exprime um fato passado referindo-se ao momento em que ele ainda acontecia (ou seja, ainda não concluído): Eu cozinhava quando minha mãe chegou.
- Indica ação frequentativa passada: Quando criança, lia Monteiro Lobato.
Futuro do presente do indicativo
- Indica fato futuro tido como certo: Amanhã farei os trabalhos da faculdade.
Futuro do pretérito do indicativo
- Enuncia um fato futuro relativo a um fato passado: Ontem Marta falou que compraria um par de sapatos.
Por fim, lembremo-nos, também, dos tempos compostos:
Do indicativo | Do subjuntivo | |
Pretérito perfeito | Pres. do ind. + particípio Tenho escolhido | Pres. do subj. + partícipio Tenha escolhido |
Pretérito MQP | Pret. Imperf. do ind. + Particípio Tinha escolhido | Imperfeito do subj. + particípio Tivesse escolhido |
Futuro do presente | Fut. do pres. do ind. + particípio Terei escolhido | Fut. do subjuntivo + particípio Tiver escolhido |
Futuro do pretérito | Fut. do pretérito do ind. + particípio Teria escolhido | — |
Com base nessa tabela, por exemplo, sabemos que "Olívia tinha feito os doces quando Gabriela chegou" equivale a "Olívia fizera os doces quando Gabriela chegou."
Esse post não teve, de jeito nenhum, a intenção de esgotar o tema da
correlação entre tempos e modos verbais. A intenção foi apenas a de dar
uma "clareada" no assunto e incentivá-los, leitores, a estudar e a treinar
bastante, pois só assim vocês ficarão seguros para enfrentarem as
questões que cobrem esse conteúdo!
Um grande abraço!
Professor Daniel Vícola
2 comentários:
Muito muito interesante, obrigada! Eu vou voltar a seu blog muitas vezes para ler mais : )
Monica : )
Obrigado, Monica! Volte sempre!
Grande abraço!
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