segunda-feira, 2 de abril de 2012

VAMOS FALAR (MAIS UMA VEZ) SOBRE CRASE?


E quando o assunto é CRASE, abundam as dúvidas e a necessidade de conhecermos os motivos que nos levam ou não a aplicar o acentro grave, indicador do fenômeno.
Encontrei na rede mais um texto interessantíssimo que vale muito a pena ser lido dada a confiabilidade da fonte e dos esclarecimentos que nos proporciona.
Como a leitura é um dos fatores essenciais para o aprimoramento de nossas habilidades com a escrita, vamos praticar um pouquinho dela e ainda aproveitar para conhecer um pouco mais sobre esse assunto tão cheio de pormenores como é a ocorrência da CRASE na nossa tão amada língua portuguesa.
Espero que aproveitem!

Professor Daniel Vícola

ENSINO À DISTÂNCIA – crase com locuções adverbiais

Disse-me o professor José T. B. Neto, de Umuarama / PR: "Tenho certa resistência em grafar ensino a distância, sem o acento grave indicativo de crase, como é comum encontrar nos documentos exarados pelo MEC. Alguns autores classificam tal ocorrência como CRASE FACULTATIVA. (...)"

Não está errado o Ministério da Educação. Mas eu, assim como o professor, prefiro usar o acento – nessa e em outras locuções adverbiais que indicam circunstância. O motivo é que a ausência do acento pode deixar o texto ambíguo. Em "ensinar/estudar a distância", por exemplo, fica-se com a impressão de que é a distância que está sendo ensinada ou estudada. É o mesmo caso de viu a distância, escreveu a distância, curou a distância, fotografe a distância, permanece a distância [= a distância permanece] e assim por diante, frases que parecem melhor com o acento indicativo de crase (que por questões didáticas também chamamos apenas de ‘crase’): viu à distância, escreveu à distância, curou à distância, fotografe à distância, permanece à distância.


Com a distância determinada, especificada, o a deve ser acentuado:

Fotografe à distância de um metro.
A casa à venda fica à distância de uns 10 km daqui.

Já na frase "Compramos uma chácara a grande distância daqui" não há crase, porque está subentendido o artigo indefinido: a (uma) grande distância.

Outras expressões de circunstância

Nas locuções adverbiais com palavras masculinas, como: a pé, a caminho, a cavalo, a frio, a gás, a gosto, a lápis, a meio pau, a nado, a óleo, a pé, a postos, a prazo, a sangue-frio, a sério, a tiracolo, a vapor etc. não se acentua o a, que é uma simples preposição.

Nas locuções femininas, contudo, embora esse a possa ser só preposição – e se sabe que a crase é a fusão da preposição a com o artigo a –, é de tradição no Brasil crasear o a por motivo de clareza. Compare nos exemplos abaixo o significado da frase sem a crase e com ela:

Foi caçada a bala (a bala foi caçada). – Foi caçada à bala.
Bateu a máquina (deu um choque ou pancada...). – Bateu à máquina.
Cortou a faca (cortou-a / cortou a própria faca). – Cortou à faca.
Vendeu a vista (vendeu os olhos). – Vendeu à vista.
Coloquei a venda (faixa nos olhos). – Sim, coloquei à venda.
Tranquei a chave (a chave foi trancada). – Tranquei à chave.
Pagou a prestação (pagou-a). – Pagou à prestação (em prestações).

Outras frases com diferenças bastante óbvias:

Lavar a mão. Lavar à mão.
Lavar a máquina. Lavar à máquina.
Fazer a mão. Fazer à mão.
Veio a tarde. Veio à tarde.
Combateremos a sombra. Combateremos à sombra.
Aguardavam a cabeceira do doente. Aguardavam à cabeceira do doente.

É por essa questão de clareza que se recomenda e geralmente se acentua o a nas locuções adverbiais de circunstância, mesmo não sendo ele rigorosamente a fusão de a + a. 
Para finalizar, outros exemplos de expressões em que, pelo bem da clareza e da correção gramatical, ocorre o fenômeno da crase: à disposição, às avessas, à beira-mar, às centenas, às escondidas, à frente, à mão armada, às mil maravilhas, à noite, às ordens, à paisana, à parte, à perfeição, à primeira vista, à revelia, à risca, à solta, à toa, à vela, às vezes, à vontade.

Sobre a autora:

Maria Tereza de Queiroz Piacentini é catarinense, professora de Inglês e Português, revisora de textos e redatora de correspondência oficial há mais de vinte anos. Em 1989 foi responsável pela revisão gramatical da Constituição do Estado de Santa Catarina e no ano seguinte publicou artigos sobre questões vernáculas em diversos jornais. Retoma agora a publicação de colunas semanais com temas atualizados, em vista da experiência adquirida e das inúmeras consultas que lhe têm feito pessoas de todo o País depois que lançou o livro Só Vírgula - Método fácil em 20 lições (UFSCar, 1996, 164p.). Também teve publicados, em 1986, dez módulos da Instituição Técnica Programada - ITP, Português para Redação, edição esgotada.
Hompege: www.linguabrasil.com.br